sábado, 23 de julho de 2011

Pende da minha boca uma palavra não dita

escorre
percorre os vazios da sua pele tão povoada de discursos
penetra no espaço saturado do seu peito
e se lança do abismo de nós

toda palavra dita
maldita
omite esse sentido estendido sobre meu corpo

para desaprender a desvendar o desejo
libertá-lo das garras da razão
deixá-lo escorrer
é preciso respeitá-lo
perscrutá-lo como um mistério
com receio
pudor

o desejo desenha seus próprios caminhos
sabe mais que a razão sobre ele

meu corpo
arde
gela
seca
molha
sob a lembrança do seu corpo dentro

enquanto você disseca meu desejo
ele escorre
pelas suas mãos

não quero palavras
não quero silêncio
quero o vazio
a imobilidade

não quero que você
fale
cale
quero que você
nem pense
nem faça
nada do que pensa fazer

você quer saber mais de mim do que sei de tudo
quer garantias de amor
que eu nego
a quem quer que me peça

2 comentários:

Márcio Pinheiro disse...

"não quero palavras
não quero silêncio
quero o vazio
a imobilidade"

Acha que o amor é um instinto de vida ou um instinto de morte? Já leu Eros e a Civilização, do marcuse?

poesia para não morrer disse...

de vida... e vida inclui morte! amor é perigo, luz vermelha, faz viver e morrer! já li este livro do Marcuse sim: ótimo!