quarta-feira, 27 de julho de 2011

por que a paixão desconsola?

mesmo quando não me arrebata
arrebata

não estou nas suas mãos
escapo por outros espaços

mas
se digo te amo
fui aprisionada

terça-feira, 26 de julho de 2011

as palavras falam por si

sossega, é tudo possível
desde que teu peito seja largo o bastante

nele tem que caber tanto amor e todo ódio
tanta leveza e toda dor
o que é, não foi, poderia ter sido

porque não amo suficientemente as palavras
insisto em falar com elas, por elas

este é meu equívoco: falar com palavras
elas nada têm a dizer sobre mim
as palavras falam por si

não sou nem escrava nem senhora das minhas paixões, sou escrava e senhora delas
o que digo não me cura porque a cura para mim não existe
o que digo me sangra porque o sangue está em mim
o que digo me lava porque a água
onde está?

sábado, 23 de julho de 2011

Pende da minha boca uma palavra não dita

escorre
percorre os vazios da sua pele tão povoada de discursos
penetra no espaço saturado do seu peito
e se lança do abismo de nós

toda palavra dita
maldita
omite esse sentido estendido sobre meu corpo

para desaprender a desvendar o desejo
libertá-lo das garras da razão
deixá-lo escorrer
é preciso respeitá-lo
perscrutá-lo como um mistério
com receio
pudor

o desejo desenha seus próprios caminhos
sabe mais que a razão sobre ele

meu corpo
arde
gela
seca
molha
sob a lembrança do seu corpo dentro

enquanto você disseca meu desejo
ele escorre
pelas suas mãos

não quero palavras
não quero silêncio
quero o vazio
a imobilidade

não quero que você
fale
cale
quero que você
nem pense
nem faça
nada do que pensa fazer

você quer saber mais de mim do que sei de tudo
quer garantias de amor
que eu nego
a quem quer que me peça

quarta-feira, 20 de julho de 2011

caso eu dê indícios de morte:

cortem imediatamente minha garganta!
e libertem
as palavras
sentidos
declarações de amor
espantos
gritos
choros
que tenho sufocado
por toda minha vida!

deixem então 
fluir enfim
o mar de sentimentos, emoções, recordações
abraços e beijos
que hoje contenho em mim...

enquanto tudo se modifica

seguiremos nós duas
exatamente assim

afinal já vivemos mais
do que caberá em nossas vidas
até o fim dos seus dias

olhei e desencontrei seus olhos
tantas vezes
quantas o céu moveu sobre nós
a areia queimando nossos pés
no verão
e a relva
que nunca pisamos juntas
mas que em sonhos flutuamos

agora sem pressa
nem pesar
apesar de tudo
seguiremos assim
como se não tivesse importância alguma
não fosse o que escapa
quando quase tocamos

esta não será nunca
nem hoje
apenas uma canção de amor
pois jamais
como prometi e você esqueceu
mas bem lembra quando se deita
- e aparta do mundo
jamais escreverei palavras de dor
simplesmente porque assim como eu
e também você
nós duas
a dor não compareceu aos encontros marcados

viu quando você chegou?
ela estava lá
à espreita
mas ríamos tanto
e fizemos tanta confusão naqueles dias
que se misturou no ar que engolimos

ao final de tudo
terá sido realmente lindo
não termos sequer percebido
quantas mortes
vivemos juntas
cada uma
em sua vida

não, meu amor

sinto muito
mas não sou perfeita
também minto
além de dizer coisas que não têm importância alguma
principalmente para você

é triste isso, é chato
mas é assim
não posso oferecer-lhe tudo
não possuo as verdades que busca
não conto com as forças de que necessita

portanto não há outro jeito
terá que ver o mundo com seus olhos
tocar as coisas com seus dedos
falar com a sua voz
proferir também 
dúvidas, incertezas, imprecisões, enganos, sandices
como eu

depois de tudo
ainda
olhar nos meus olhos
comprovar, reconhecer meu espanto, desapontamento

e tudo não ficará por aí
teremos muitos  momentos como este
(em que ultrapassamos o espanto entre nós?)
poderemos então 
até conseguir mais
ouvirmo-nos atentamente
quem sabe tocarmo-nos outras vezes

segunda-feira, 18 de julho de 2011

é no meu peito a terra de ninguém

o amor venta, chove, varre
arde como sol a pino
não cedo, não me dobro
luto
entre eu e quem?

é no meu peito a terra de ninguém

terça-feira, 12 de julho de 2011

hoje e sempre

que eu não esqueça nunca os versos mais lindos que li
e os guarde em algum canto do meu corpo
para reconfortar-me das dores
insuportáveis da alma
por tudo contudo entre tudo
que me reste sempre a palavra bruta da poesia
por onde a vida passa inteira