quarta-feira, 15 de junho de 2011

balada do amor no alvorecer do século XXI

meu amor
abra os olhos
chegamos ao século XXI

enquanto você dormia
não restaram certezas
quase nada se manteve de pé
proliferam dúvidas e mais dúvidas
mas você pode vislumbrar
coisas tão fantásticas
que vai pensar ainda estar sonhando

o mundo não vai acabar agora
mas já é hora de fazer um inventário
hierarquizar valores

as três coisas mais lindas do mundo são
nossos filhos pequenos quando brincam ou dormem
nossos filhos crescidos entre os amigos da escola
nossa casa vazia depois que saímos apressados para o trabalho
e antes que retornemos para jantar e dormir

e as três coisas mais importantes são
o acalanto do bebê
o aconchego da casa
o acolhimento do outro

estou pronta
agora você há de ouvir
para lhe falar
baixei dois tons a minha voz
desacelerei meu peito
respirei fundo mil vezes
e treinei ao espelho olhar alguém
dentro dos olhos

(poesia escrita em 2006)

por uma razão poética

já jurei mil vezes calar a boca
mas de repente falo demais
maculo, firo, atento contra
a imagem harmoniosa das palavras
que repousam no ar
satisfeitas
em seu conteúdo e forma
produzindo sentidos
intocáveis
indecifráveis
exceto para aqueles poucos
que sabem calar
engolir em bruto
as coisas ditas

há diferenças abissais entre mim e você
meu corpo reage ao controle que exerço a fim de torná-lo livre
o seu liberta-se
exala cheiros, sons
carece, satisfaz-se

por favor, não desista
bata
insista
se preciso
dê forte na minha cara
até eu abrir as pernas
só assim teremos a certeza de que estamos vivos
e falamos a mesma língua
(poesia escrita em 2006)